quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Relato de uma voluntária

Há alguns meses vou toda segunda-feira à Santa Casa de São Paulo contar histórias para as crianças internadas. O trabalho é voluntário pela Associação Viva e Deixe Viver e pode parecer loucura gostar de ir a um hospital e testemunhar o sofrimento dessas pequenas pessoas tão inocentes.

Vou parecer mais insana ainda, mas as crianças me fazem mais bem do que eu a elas. No domingo à noite eu não vejo a hora de chegar logo o dia seguinte para pegar minha bolsa lotada de livros, desenhos, lápis de cor e tintas coloridas, fantoches e meu avental recheado de penduricalhos para andar por aqueles corredores e ser perseguida pelas crianças que surgem de todas as direções e sempre dizem que estavam esperando por mim.

A minha principal intenção em fazer parte disto tudo é querer fazer a diferença. Com historinhas? Sim! E como fazem. Nestas últimas semanas dois fatos tão pequenos que ocorreram simplesmente me fizeram ganhar todas as semanas até o resto do ano...até mais, me fez perceber que essa brincadeira é realmente coisa séria!

A Carine tem oito anos de idade, nunca perguntei o motivo de suas idas e vindas ao hospital, pois só me interessa sua disposição em ouvir histórias, e quando eu já estava indo embora em meios a reclamações e pedidos para ficar mais "um pouquinho só" ela sentou-se ao meu lado e disse: "Tia, quando eu crescer vou querer ser voluntária também".

Fiquei toda arrepiada e senti praticamente a responsabilidade de criar um filho, dar um bom exemplo e plantar aquela sementinha do bem para depois colher um adulto extraordinário. Nunca mais vou esquecê-la e espero que ela cresça e também não se esqueça daquela voluntária atrapalhada, tagarela e mais boba do que todas as crianças dali.

Já o Ramon César tem 30 anos e o seu filhinho de oito anos tem um tumor maligno no cérebro. São dois meses de internação, muito tempo trancafiado em um hospital e muita pouca esperança. Nada disso fui eu quem perguntei, ele veio até mim pedindo que eu também lhe contasse uma história para se distrair. Mas a ouvinte acabou sendo eu e não pude deixar de abraçá-lo em uma tentativa de tranquilizá-lo.

Semana que vem tenho uma nova missão: achar uma história para o Ramon e prestar mais atenção aos pais, pois eles também precisam ouvir e contar histórias.

Ok, mais uma realização de vida riscada da minha lista.

3 comentários:

Anônimo disse...

Achei muito bacana o seu trabalho como voluntária, realmente admirável. Cheguei a me arrepiar com os fatos que contou, e olha que nem aconteceu comigo. Parabéns, acredito que atos como os seus realmente fazem a diferença na busca por um mundo melhor.

beijos!

Thiago Dalleck disse...

Realmente, é de pessoas assim que o mundo precisa. Às vezes me envergonho de não colaborar com nada em específico, mas sempre que posso tento ajudar. Parabéns pela iniciativa!

Ahh, você escreve muito bem, boa jornalista =)

Anônimo disse...

Muito legal... eu ainda tenho que riscar essa da minha listinha.Mas eu quero fazer algo pelos idosos. Pode parecer besteira e vc pode dizer:_pke ele que já estão no fim da vida?
e eu digo: " a sabedoria e a esperança nos fazem bem e dar alegria àqueles que já viveram e se sentem só não tem preço."
Mt bom ,menina ! Vc já consegui mais um tijolinho para a sua casinha no céu!
bjoksss